SÃO CLEMENTE MARIA HOLFBAUER
"A partir de hoje, este é o teu Pai".
João entendeu bem a orientação, decidindo, a partir de então, que se tornaria sacerdote e missionário.
Trabalhou contra o estabelecimento de Igreja Nacional Germânica e contra o Josephinismo que queria o controle secular do Clero e da Igreja dentre esses e outros feitos destacamos o segredo de sua grande santidade. Uma ardente, terna e filial devoção à Santíssima Virgem.
No púlpito, quando discorria sobre algum mistério da vida de Nossa Senhora, tornava-se excepcionalmente eloqüente e as palavras jorravam fáceis dos seus lábios: era o filho amoroso que enaltecia os encômios de sua Mãe.
Em todos os seus passeios pela cidade e em casa, nos momentos livres, Clemente desfiava as contas do Rosário. Para consolidar essa devoção entre os seus discípulos impôs aos oblatos da congregação o dever de defender sempre o Santíssimo Rosário, mormente quando escarnecidos pelos hereges. No púlpito, no confessionário e nos entretenimentos familiares recomendava com fogo essa devoção; nas pausas do confessionário rezava o terço, ou, ao menos algumas “Ave-Marias”, afirmando que por essa devoção conseguia quanto pedia a Deus.
Por vezes, à cabeceira dos doentes, esgotados aos meios de persuasão, ajoelhava-se, rezava o terço, e a conversão era garantida. Chamado a algum doente, que morava um tanto afastado, punha-se a rezar o Terço a caminho e gostava de dizer:
“Quando tenho tempo de rezar o Terço, não há pecador que não se converta!”
Para São Clemente a devoção a Nossa Senhora era uma necessidade imperiosa. Não podia ouvir falar em nome de Maria sem algum predicado glorioso para Ela. Quando em suas longas viagens encontrava algum santuário da Virgem, não prosseguia seu caminho sem primeiro saudar sua Mãe Celeste e depositar em seu altar o ósculo ardente de seu amor filial. Em Viena os únicos passeios que fazia fora da cidade, eram consagrados à Virgem em seus santuários, Todas as igrejas de Nossa Senhora eram-lhe caras, porque em todas elas encontrava ocasião de homenagear sua Mãe e Rainha; porém o que mais lhe atraia era o de Mariazell, onde se desenvolvia como em nenhum outro, a vida de fé católica, aliás, abaladíssima na Áustria no tempo do josefismo.
Quando o Santo contemplava as multidões que, de perto e de longe, invadiam o Santuário da Virgem, os corações a vibrar de amor, os cânticos a ecoar pelas planícies, as orações a repercutir na vasta abóbada do Santuário, sua satisfação era sem limites, seu peito estremecia, e seu coração parecia saltar fora a desafiar os incrédulos a virem em sua incredulidade explicar aquele espetáculo de fé.
–“Que os incrédulos, exclamou Ele, venham explicar-Me, se puderem, o que impulsiona este povo, o que o traz de tão longe terras, a custo de mil fadigas, a estas montanhas! Tem-se que reconhecer que é o poder da fé. Oh! Se o Santo Padre pudesse ver toda essa gente e esta devoção, havia de chorar de alegria”.
– “Não se pode ir para o paraíso senão por meio de Maria”, gostava Ele de repetir.
“Meus irmãos, exclamou Ele um dia levado de entusiasmo, se entre vós existir algum que perdeu a fé, ou nela se sente fraco, ouça o remédio eficaz que eu conheço ser infalível: reze diariamente de joelhos e com devoção uma ‘Ave-Maria’ à Mãe de Deus, e sua alma atribulada recuperará a paz”.
Nesse sentido, o Santo Padre Bento XVI nos ensina: "Cada santo que entra na História já constitui uma pequena porção do retorno de Cristo, um novo ingresso dEle no tempo, que nos mostra Sua imagem de um novo modo e nos deixa seguros de Sua presença"1.
É entre tais heróis que encontramos São Clemente Maria Hofbauer, um dos gloriosos padroeiros de Viena, suscitado pelo Senhor para transformar a sociedade de seu tempo com as simples armas do fervor e da oração.
Nosso Santo veio ao mundo em Tasswitz, pequena aldeia rural, hoje pertencente à República Checa, situada a cem quilômetros ao norte de Viena. Levado à pia batismal no mesmo dia de seu nascimento, 26 de dezembro de 1751, recebeu o nome de João Evangelista. Sua humilde família foi abençoada com doze filhos, entre os quais João era o nono.
Apesar das muitas dificuldades enfrentadas pelos pais, reinava naquele lar cristão um grande zelo pela Lei de Deus, no cumprimento da qual todas as crianças foram formadas. Quando a morte arrebatou a vida do chefe da família Hofbauer, a mãe de Clemente - seu nome de religioso, com o qual passou para a História - levou-o aos pés do crucifixo da paróquia e lhe disse: "Meu filho, a partir de agora, é Ele o teu pai. Cuida de andar sempre pelos caminhos que são do Seu agrado". Tinha ele, por essa época, apenas sete anos.
Sem se sentir chamado a ser um dos filhos de São Norberto, junto aos quais trabalhou com dedicação e aprendeu as primeiras letras, partiu o jovem de 24 anos para um local retirado em Mühlfrauen e viveu aí como eremita por um ano.
Num paradoxal trajeto forçado pelas circunstâncias e permitido por Deus, teve de abandonar sua ermida e voltar aos trabalhos de panificação, para depois retomar a vida de absoluto recolhimento e oração, quando retornava de uma peregrinação a Roma. Encantou-se nesta circunstância com os ermitões de Tívoli, aos quais se uniu com alegria por um fecundo período.
Após um período em Viena, São Clemente partiu outra vez para a Cidade Eterna, desejando completar sua formação teológica. Grande foi sua consolação quando lá conheceu, com um companheiro de viagem, Tadeu, os sacerdotes da Congregação do Santíssimo Redentor, a instituição fundada havia pouco por Santo Afonso de Ligório. Já no primeiro contato, sentiu que estavam encerrados os anos de incessante procura: Deus o chamava para ser redentorista, e não deixava lugar para dúvidas.
Era o ano de 1784, e o venerando fundador, próximo já dos noventa anos, passava os dias sofrendo e rezando por seus filhos. Quando soube do ingresso desses dois virtuosos jovens germânicos no noviciado, Santo Afonso consolou-se sobremaneira e fez esta impressionante profecia: "Não duvideis, a Congregação há de durar até o dia do Juízo, porque não é obra minha, mas de Deus. Enquanto eu viver, ela continuará na obscuridade e nas humilhações; depois da minha morte, porém, ela estenderá suas asas, sobretudo nos países do Norte. Estes padres farão muito pela glória de Deus"2. Não se enganava o eminente Doutor da Igreja, pois a grandiosa expansão dos padres redentoristas pelo mundo deveu-se em larga medida ao impulso inicial dado por aquele novo filho, um dos consolos de sua ancianidade.
Os superiores enviaram-no para além dos Alpes, incumbindo-o de atividades missionárias junto aos pobres. Seu trabalho apostólico iniciou-se em Varsóvia, onde lhe foi confiada a Igreja de São Beno, nessa época completamente abandonada. O triste estado material do templo bem representava o desamparo espiritual das almas que na cidade viviam, afundadas na indiferença e tibieza, sem instrução religiosa nem vida sacramental.
São Clemente tinha consciência do perigo que corria aquele rebanho, e lançou-se com ardor na obra de evangelização. Começou com os meninos abandonados, para os quais fundou uma escola nas próprias dependências de São Beno. Compadecia-se da ignorância geral sobre as verdades da Fé, tanto entre o povo humilde como entre as pessoas ilustres; para solucionar esse problema, pregava constantemente. Aos poucos, o singular sacerdote ia vencendo a inércia espiritual. Crianças, jovens, operários, damas e cavalheiros, todos sem exceção, lotavam a igreja para ouvir suas palavras cheias de unção, capazes não apenas de convencer, mas também de mover os corações para as vias da santidade.
"Aos domingos e dias santos, às cinco horas da manhã há instrução para os operários e empregados, que não podem ouvir, em outra hora, a palavra divina, havendo em seguida uma Missa para eles [...]. Todos os dias há uma Missa às seis horas com exposição do Santíssimo, durante a qual o povo canta, havendo em seguida uma instrução ao povo em polonês. Durante a instrução celebram-se Missas para aqueles que não compreendem alemão nem polonês. Às oito horas, Missa cantada a cantochão com uma pregação em polonês, e logo em seguida uma outra em alemão. Terminada essa instrução os meninos da escola vão à igreja, onde começa a Missa solene com a grande orquestra: assim encerra-se o culto da manhã.
Eis uma amostra da impressão causada por suas pregações: "Ele prega como alguém que tem poder. O poder da sua vocação vem da força da sua Fé, que se acha como que encarnada nele e se expressa em cada feição do seu rosto e em cada um dos seus movimentos6". Disse outra testemunha: "Nunca vi alguém que soubesse tornar o cristianismo tão amável, como ele. Durante suas pregações penso muitas vezes que deve ter sido assim que pregaram os apóstolos7".
Quando ele morreu, em 15 de março de 1820, uma enorme multidão veio prestar sua última homenagem ao pastor insuperável que o Senhor e Sua Mãe lhes enviaram. Era o início da glorificação do Servo de Deus, cuja memória haveria de figurar não só entre os homens, mas, sobretudo, no Coração de Deus. O irmão que salva seu irmão salva sua própria alma, e brilhará no Céu como um Sol por toda a eternidade.
Quando contava seis anos, perdeu seu pai. Sua mãe levou-o diante de um Crucifixo e lhe disse:“De agora em diante, este será teu único pai; procura seguir seus passos e levar uma vida conforme à sua vontade santíssima”.
Ele tinha recebido de Deus um coração extraordinariamente propenso para o bem, reto e sincero. Votava um amor entranhado ao Sacramento da Eucaristia e à Santíssima Virgem, sendo o rosário sua oração predileta. Completou o curso primário na escola local, enquanto ajudava a mãe no campo. Embora sentisse verdadeira vocação para o sacerdócio, a pobreza da mãe não permitiu que continuasse os estudos.
Dizia ele: “As solenidades públicas atraem por seu esplendor e aos poucos cativam o povo, que ouve mais com os olhos do que com os ouvidos”.
Ressuscitou também, ou criou, associações tradicionais de piedade, tanto para homens quanto para mulheres e crianças. Fundou uma espécie de Ordem Terceira dos redentoristas, os “oblatos”, entre os quais figuravam sacerdotes e pessoas de ambos os sexos e de todas as classes sociais.
Mas não se detinha nisso o zelo do apóstolo: fundou também escolas para crianças, colocando-as em mãos de hábeis e virtuosos mestres formados sob sua vigilância. Promoveu a boa imprensa, difundindo principalmente as obras de Santo Afonso de Ligório, para o que utilizava os congregados marianos. Em seus fogosos sermões, combatia o jansenismo, o protestantismo e os franco-maçons.
Sofri na Polônia coisas que só serão manifestadas no dia do Juízo Final”.
Influência crescente no Congresso de Viena
Nesta ocasião, deu-se a convocação do Congresso de Viena para reparar as calamidades provocadas pelas guerras napoleônicas e traçar o futuro da Europa. São Clemente esperava muito desse congresso, porque do seu resultado dependeria a prosperidade da Religião no Velho Continente. Exercia muita influência sobre alguns de seus participantes. Diariamente confabulava com eles, que lhe apresentavam as propostas que iriam fazer naquela assembléia. Até o príncipe da Baviera pedia-lhe conselhos; certa noite, ficou conferenciando com ele das 20h às 2h da madrugada.
Com efeito, ele chamava o rosário sua “biblioteca”, afirmando que, por essa devoção, conseguia tudo que pedia a Deus.
Impôs mesmo aos oblatos o dever de defender sempre o rosário, mormente quando escarnecido pelos hereges ou assemelhados.
São Clemente faleceu no dia 15 de março de 1820, no momento em que os sinos tocavam o Angelus. Foi beatificado por Leão XIII e canonizado por São Pio X, em 20 de maio de 1909.